Eu não sei se o Cristiano Ronaldo tem obsessão em ganhar a Bola de Ouro da Fifa. Nunca conversei com ele a respeito (aliás, nunca conversei com ele sobre nada, para dizer a verdade). Não me lembro de ele ter dito isso em entrevistas. Mas muita gente diz que o CR7 é obcecado em ganhar o prêmio de Melhor do Mundo de novo. Atualmente, muitos transformam suas impressões e/ou opiniões em verdades, mesmo sem ter confirmações. E isso virou um "fato" para a opinião pública. Sendo verdade ou não, a realidade é que em 2013 ninguém jogou mais bola que o atacante português. E a Fifa e seu colégio eleitoral soube reconhecer isso, dando o prêmio ao jogador do Real Madrid.
Além de CR7, concorriam ao prêmio Lionel Messi e Franck Ribery. O dono dela, por merecimento, já era Cristiano Ronaldo. Se na realidade não fosse, bebendo da fonte do genial Nelson Rodrigues, seria pior para o prêmio e para a Fifa, que teriam sua credibilidade (ainda mais) arranhada. Isso foi o resultado do que os campos da Europa viram acontecer no ano passado.
Tenho muitas críticas ao período de vigência da Bola de Ouro, considerando que as competições da Fifa seguem o formato agosto maio. Mas pelo modelo vigente, considerando janeiro a novembro, não havia omo não premiar Cristiano Ronaldo por 2013. Até agosto, havia a impressão de que Ribery poderia rivalizar com ele (eu, inclusive, pensava assim). Mas há um ponto interessante: não há nem unanimidade de que o francês foi o melhor jogador do Bayern! Como querer emplacar ele como melhor jogador do mundo no ano? Não dá... Messi, com seu ano completamente atípico do ponto de vista de lesões, está entre os três pelo "voto música ruim", aquela que gruda na sua cabeça e fica difícil de sair...
Ter Ribery no páreo é um exemplo claro do transporte do sucesso coletivo (e bota coletivo no Bayern atual) para o sucesso individual. Acho que as duas coisas têm que ser pesadas na hora de dar o prêmio. Só que as atuações de um Cristiano Ronaldo sem título algum com o Real ou com Portugal "descompensaram essa balança". É muito fácil citar os 68 gols (de tudo que é jeito) e 15 assistências no ano, a artilharia da Liga dos Campeões (12 gols em 12 jogos), suas oito partidas com três gols, a espetacular média de mais de um gol por jogo pelo Real, ter feito gol em cinco dos seis encontros do mata-mata da Liga dos Campeões, entre outros feitos, para justificar o prêmio.
Mas vou além. Percebi em 2013 um Cristiano Ronaldo diferente, mais concentrado no futebol. A comemoração no estilo "eu jogo (ou resolvo) aqui" é a exteriorização disso. Não que antes não fosse. Mas acho que foi o jeito do português mandar uma mensagem clara, direta e necessária para muitos: "parem de avaliar o meu cabelo, minhas roupas, minhas companhias! Avaliem o que eu faço aqui dentro!". Ouviu, Sepp Blatter?!?! Com essa postura, ficou para trás o "não estou feliz" (que na verdade era uma demanda de mais influência na equipe). E ele também passou por cima do péssimo clima do fim da Era Mourinho.
O reflexo disso vimos em campo: Cristiano Ronaldo letal e, ao seu modo, líder. Por várias vezes assumiu o papel de tirar o Real do mato. Em muitos jogos. Só para lembrar, a virada sensacional contra o City, na abertura da Liga dos Campeões 2012/2013, é um exemplo claro. Isso transbordou também para a seleção portuguesa, salva do desastre nos jogos contra a Irlanda do Norte e, principalmente, nos confrontos da repescagem contra a Suécia ("só" os quatro gols portugueses do duelo...). Para mim, isso foi tão importante quanto a "numeralha" de gols.
Alívio. Esse foi o sentimento inicial que Cristiano Ronaldo mostrou ao receber o prêmio. Depois, dominado por uma emoção genuína, passou a impressão de estar vibrando por dentro com uma realização gigante. Isso pode ser confundido com obsessão. Mas se o português me permitisse fazer uma suposição sobre uma obsessão que ele tenha, diria que é por fazer o melhor. E a obsessão de levantar a Bola de Ouro é uma consequência disso.