Primeira indígena a se vacinar contra a covid-19 no Brasil, Vanuzia Costa Santos, 50, mora na aldeia multiética Filhos dessa Terra, localizada no bairro Cabuçu em Guarulhos.

Técnica de Enfermagem e assistente social, Vanuzia é também presidente o Conselho do Povo Kaimbé, originário do Nordeste. Ela afirma que deseja um dia retornar para cuidar dos moradores da aldeia de Massacará, na cidade de Euclides da Cunha, Bahia, onde nasceu.

Hoje, Massacará tem cerca de 200 famílias, cerca de outras 180 famílias deste povo residem em São Paulo. Vanuzia veio morar no estado em 1988 para trabalhar.

Após ser vacinada, ela fez um apelo para que as pessoas tomem a vacina. Se referindo diretamente ao povo indígena, de quem disse ter ouvido, de alguns, que não tomariam a vacina, ela destacou que a vacinação contra doenças não é novidade para os índios. Ela lembrou que ainda criança se vacina em Euclides da Cunha. Vanuzia disse que somente o conhecimento milenar indígena não é capaz de vencer o vírus da covid-19.

"Devemos valorizar a ciência e a educação. Só minha crença não é capaz de dar conta desse vírus. A ciência milenar (dos indígenas) não é capaz de combater o vírus. Tomo vacina há 50 anos, minha mãe me levava na nossa aldeia. Sempre tomamos vacinas e porque não agora? A vacina veio para nos salvar e dar vidas. Faço um apelo com meus parentes, que não querem tomar vacinar: tome a vacina. Se você não se vacinar vai perder a vida, e a vida de seus parentes", disse horas depois de ser vacinada, em entrevista à GloboNews.

'"Fiquei muito feliz de participar deste momento. Sou defensora da vida, de outras vacinas, da prevenção, saúde. Devemos valorizar a educação, a ciência, e isso pode ser conciliado mantendo uma crença, com as rezes e a medicina tradicional do meu povo", afirma.

Ela afirma ser necessário sensibilizar demais famílias indígenas sobre a importância da imunização. Como técnica de enfermagem Vanuzia atuou na Casa do Índio, onde trabalhou por 10 anos.

Vanuzia foi diagnosticada com covid-19 no começo de maio. Solteira, com um filho de 24 anos, relata o sofrimento provocado pela doença: dor no corpo, tosse, muita falta de ar, além da ausência de olfato e paladar que persistem até hoje.

"Não fui para o hospital porque ajudava a cuidar de outras seis pessoas, precisava ter força para dar uma palavra de conforto e cuidar deles, sem me abater. Tinha um oxímetro mas não media minha respiração para não me apavorar. Fiz o teste em 15 de junho e já estava curada", afirmou